domingo, 4 de setembro de 2011

Comunicado Squat Taboca

Mais uma vez o poder demonstra sua verdadeira face. Mesmo entre aqueles que se dizem "revolucionários sociais", se estão atrelados à ânsia e ao fetiche pelo poder, os resultados não poderiam ser outros. A história nos mostra, o cotidiano confirma.
Recentemente em Natal/RN passamos por uma experiência política muito interessante: diversos setores de lutas sociais saem da realidade virtual (Orkut, Facebook, Twitter) para agir diretamente nas ruas, denunciando e protestando contra a atual administração municipal, encabeçada pela prefeita Micarla de Sousa. Nasce então o Movimento #ForaMicarla.
Como forma de pressionar e adiantar esse processo de luta o Movimento #ForaMicarla decide ocupar a Câmara Municipal de Natal (CMN), até que se instalace um CEI (Comissão Especial de Inquérito) para investigar as irregularidades da gestão municipal e sua prefeita.
O movimento também assumiu um caráter de autogestão, horizontalidade e pluralidade. Não existiam nenhum centro de poder, que decidia e organizava tudo, mas tudo era decidido e organizado por todos, através de plenárias horizontais e comissões descentralizadas. Participavam estudantes, trabalhadores, desempregados, artistas, socialistas, comunistas, anarquistas, tanto pessoas partidárias, como apartidárias, etc.
E como estavamos em processo de ocupação de um prédio público, o poder constituído da CMN, fez todas as tentativas para desocupar o prédio, fosse por bem, fosse por mal, através de acordos frajutos, provas falsas para tentar desarticular e desmoralizar o movimento, colaboração da mídia corporativa, a eminente repressão policial, etc. Todos nós gritavamos: "ocupar, resistir produzir!", ou então, "daqui não saio, daqui ninguém me tira!".
Para tanto, ensaiamos formas de resistência pacífica e com o apoio de uma boa comissão jurídica, conseguimos permanecer no prédio até que os principais objetivos da ocupação fossem cumpridos: a audiência pública e a instalação da CEI.
Foram 11 dias de resistência, tensão, aprendizado, diversão, conflitos e coragem. O Movimento #ForaMicarla continua se organizando e lutando pela derrubada de uma prefeita corrupta e comprometida.
Agora, nós do Squat Taboca - Centro Social Okupado - estamos ocupando a antiga sede da UMES (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas) que estava abandonada há vários anos,pela própria falência da instituição, pelas rixas partidárias e pela burocracia.
Depois que iniciamos essa nova ocupação, desde Julho/2011, todos os partidos políticos, principalmente aqueles que se dizem "socialistas" e "revolucionários", voltaram suas atenções para nossa ocupação.
Nesse pouco tempo que estamos lá, demos vida a esse espaço, oferecendo oficinas diversas, como oficinas de macramê, grafite, poesias, muay tay, entre outras, sempre contando com a participação e apoio da vizinhança.
Mas obviamente, os partidos não poderiam perder um prédio de uma instituição tão importante, não podiam perder o controle das massas estudantis, pois eles querem impor seu poder em cada segmento, em cada brecha, seja onde for: sindicatos, associações estudantis, conselhos de bairros, movimentos sociais, etc.
Stalinistas, Trotskistas, Sociais Democratas, todos são adoradores do poder, (assim como a Direita) e não podem permitir a autonomia e a independência dos movimentos sociais, podendo correr o risco de perder suas credibilidades, seu controle e sua massificação sobre os grupos de lutas sociais (geralmente objetivando a conquista nas eleições políticas). Obvio, que sempre tem aqueles que realmente se empenham em fazer uma luta honesta e verdadeira, estes merecem meu respeito, mas também minhas críticas.
Esses "heróis" dos partidos, farão de tudo para tomar o prédio de volta, assim como aqueles opressores que queriam nos desalojar da CMN. Para isso, os partidos já deram os primeiros passos: a realização do 16 Congresso da UMES (CONUMES), para se rearticularem e tomar o prédio de volta.
O interessante desse congresso é que a UMES é uma entidade apenas para atender as necessidades dos estudantes secundaristas, e não temos nada contra os estudantes se auto-organizarem e utilizarem de sua sede para suas lutas, entretanto, este congresso estava repleto de marmanjos de partidos (majoritariamente partidários da UJS) e por uma massa de estudantes secundaristas (pré-adolescentes e adolescentes sem nenhum tipo de posicionamento político e sem saber sequer porque estavam ali, a não ser pelo "oba oba"), a maioria doutrinados e manipulados pela UJS.
A UJS - União da Juventude Socialista (Juventude ligada ao PCdoB) exibiu um show de oportunismo, manipulação, doutrinamento e massificação, que além de usar os estudantes como "laranjas" para seus fins políticos sujos e oportunistas, ainda não deu voz à nós, ocupantes do prédio, e cerceou nossa participação nesse congresso.
Assim, como a UJS conseguiu utilizar massivamente os estudantes "laranjas" a seu favor, sairam ganhando a diretoria da UMES. Agora eles estão tentando a todo custo retomar o prédio para eles.
Nós, okupantes do Squat Taboca, não queremos tomar o prédio dos verdadeiros estudantes secundaristas, estaremos sempre abertos para o diálogo e suas propostas.
Entretanto, devemos questionar: se a UMES é uma instituição dos estudantes auto-organizados ou é uma instituição controlada por um partido manipulador, que utiliza as lutas estudantis e sociais para seus fins? Quantos estudantes sabem o que é, e para que serve a UMES?
Exigimos a autonomia e a independência dos estudantes em relação à todas as formas de poder, inclusive das cúpulas partidárias.
Assim, em respeito aos verdadeiros estudantes, decidimos no final do mês de setembro entregar o prédio de volta. Mas que fique registrado nossa indignação contra o aparelhamento dos partidos e que os verdadeiros estudantes combatam esses pelegos dos partidos.
Não vemos nossa atitude como fracasso, mas pelo contrário, nossa resistência não foi nula, pois mostramos na prática que podemos construir outras novas formas de viver e lutar.
Okupações são zonas autonomas temporárias, nunca se tem a preocupação de durar para sempre, pois se tornaria algo estático, e queremos uma vida fluída, que se dure enquanto for necessária, mas que nunca dar uma continuição artificial.
Outras okupações estão vir, não só de espaços abandonados, mas okupações de tempo, de espaços, de pensamentos, de nossas próprias vidas, com liberdade, autonomia, solidariedade e socialização.

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